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VÍDEO: 'um ano depois, a dor não passou', diz mãe de engenheiro morto por policial

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Foto: Anselmo Cunha (Especial)

Um ano depois da morte do irmão gêmeo, Guilherme ainda espera Gustavo aparecer pela porta, a qualquer momento, na casa em que eles viveram durante toda a vida, no Bairro Salgado Filho, região norte de Santa Maria. Em 19 de abril de 2020, Gustavo dos Santos Amaral, 28 anos, saiu para um dia de trabalho e nunca mais voltou. Ele foi morto depois de ter sido confundido com um bandido durante uma barreira policial na cidade de Marau no norte do Rio Grande do Sul.

No ano passado, após conclusão do inquérito da Polícia Civil, o Ministério Público pediu o arquivamento do caso, que foi acatado pela Justiça (veja mais abaixo). No entendimento do judiciário, o caso configura uma legitima defesa putativa (ou imaginária). 

- Nossa luta é para que isso não aconteça com outras famílias. Meu irmão não volta mais. Mas não tem um dia em que eu não pense nele. E a injustiça, a chance de nem mesmo se ter um julgamento sobre o caso, nos traz uma dor ainda maior - lamenta Guilherme.

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Em meio ao luto, a família de Gustavo teve um sopro de alegria com o nascimento da pequena Manuela, hoje com dois meses, filha de Guilherme. O que entristece o novo papai é que o irmão não terá a chance de conhecer a sobrinha.

- O ano foi bem difícil, e a chegada da Manuela foi como uma chance para recomeçar. Só que esse recomeço vai ser sem uma peça importante na nossa família. Vamos encontrando novas formas de seguir a vida. As datas como aniversário, Dia das Mães ou dos Pais são as mais difíceis - lembra.

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Foto: Anselmo Cunha (Especial)
A família tenta recomeçar depois do nascimento da Manuela, filha de Guilherme e Shaiane. A avó Eneida busca forças na neta

O VAZIO E A SAUDADE
Desde que perdeu o filho, a aposentada Eneida Salete dos Santos, 66 anos, precisa de acompanhamento psicológico. Ela também se apegou à neta para seguir a vida.

- Um ano depois, a dor não passou. Nunca vai passar. Quando chega o final de semana é uma tortura, porque eu sei que ele nunca mais vai voltar para casa. Viver, a gente não vive mais, só sobrevive depois desta tragédia - conta a mãe. 

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">O jovem estava a trabalho na montagem de um transformador no município de Marau. Era manhã de domingo e ele estava a caminho do trabalho junto de outros três colegas quando parou na barreira policial.

- O que mais me dói é que eu não estive com ele na hora em que morreu. Eu não pude pegar na mão dele, nem pedir para que não sofresse. Meu filho morreu atirado no asfalto e não merecia isso - diz, inconformada, a mãe. 

As memórias, assim como os objetos e fotos antigas, mantêm viva a lembrança do jovem engenheiro eletricista, que havia se formado, na UFSM, um ano e meio antes de ser morto. Descrito como festeiro, de sorriso largo, talentoso com o seu violão em mãos e fã de pagode e sertanejo, Gustavo tinha o sonho de criar uma escolinha de futebol para ajudar as crianças do bairro. Sonho que a família pretende levar adiante, no futuro, com a criação de uma fundação com o nome de Gustavo.

- Toda vez que tem jogo do Grêmio, eu sinto a presença do Gustavo ao meu lado quando assisto. Estudamos juntos da pré-escola até a faculdade, jogamos futebol juntos, fazíamos tudo juntos. Perdi o meu grande parceiro de vida - afirma o irmão gêmeo. 

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Foto: Anselmo Cunha (Especial)
Eneida guarda nos objetos e fotos a lembrança do filho Gustavo

O QUE DIZ A DEFESA DO POLICIAL
Os advogados Ricardo de Oliveira de Almeida e José Paulo Schneider, que atuam na defesa dos policiais envolvidos no caso, enviaram uma nota ao Diário:

"A defesa reitera que as soluções jurídicas aplicadas pelas autoridades competentes foram adequadas e encontram respaldo na doutrina, jurisprudência e na Lei, não havendo nada a acrescentar do ponto de vista jurídico, registrando, por fim, o mais sincero respeito à dor da família e à memória do jovem Engenheiro Gustavo."

RELEMBRE O CASO

  • 19 de abril de 2020 - uma barreira policial foi montada em Marau para prender dois homens estavam em uma camionete Volkswagen Amarok, que teria sido roubada em Casca, a 32 quilômetros de Marau. Durante a tentativa de fuga, a camionete da dupla colidiu contra uma Fiat Doblô, onde estavam Gustavo e mais três homens. Em seguida, começou o tiroteio. Gustavo, que estava no volante, parou o carro no acostamento. Havia outros carros parados atrás e Gustavo, em pânico, correu em direção aos veículos. Em seguida, o policial teria efetuado o disparo. Os dois suspeitos que estavam na camionete foram presos em flagrante pela polícia. Um deles também foi baleado e encaminhado para o hospital de Passo Fundo.
  • 22 de junho de 2020 - o inquérito da Polícia Civil, feito pelo delegado Norberto dos Santos Rodrigues, concluiu a investigação apontando que o PM que atirou contra Gustavo agiu em legítima defesa putativa, ou seja, que ele reagiu a uma ameaça imaginária por ter confundido o celular na mão de Gustavo com uma arma. 
  • 9 de setembro de 2020 - saiu a sentença da juíza, que decidiu pelo arquivamento do processo. A decisão acatou um pedido do Ministério Público, em relatório do promotor Bruno Bonamente, que também concluiu que houve legítima defesa putativa na ação do PM que atirou e, em relação aos outros dois policiais que estavam na barreira, considerou que não tiveram participação na ação. 
  • Na sentença, a juíza destacou que "pela dinâmica dos fatos, é de concluir que o policial apenas efetuou os disparos contra a vítima Gustavo, pois acreditou tratar-se de um dos assaltantes e, principalmente, que ele podia estar armado, já que estava portando em uma das mãos um telefone celular e não obedeceu a ordem de rendição. Na verdade, no momento em que foi solicitado para parar e deitar, o ofendido fez movimento com o braço para o lado, tencionando apontar um objeto para o policial, fazendo-o de fato crer que aquilo poderia ser uma arma de fogo (quando na verdade era um celular). Logo, acreditando estar em perigo iminente, o policial efetuou o disparo de arma de fogo que culminaram com a morte de Gustavo."

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